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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Mudança....


Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!
***Texto de Clarice Lispector

LIÇÃO DE VIDA


Um dia destes recebi uma correspondência de uma pessoa amiga, contendo uma mensagem atribuída ao inesquecível Charles Chaplin. Seu teor é de uma profundidade tal, que não me atrevo a duvidar de que seja ele mesmo o autor. Vejam:

"Esquecendo os erros do passado construímos nosso novo mundo. Talvez nos falte poesia...Talvez nos falte amor. Mas com certeza podemos dar um pouco mais, pois com certeza o amor que não damos é o mesmo que não recebemos. E talvez mirando-nos em exemplos de coragem, trabalhando pela paz e compreensão entre os homens, possamos um dia erguer os olhos novamente"

Realmente, é muito comum querermos que os outros estejam sempre atentos a nossos quereres, sempre estarmos a exigir a atenção para nossos desejos, querendo que sejam atendidos. Porém, ao exigirmos isso dos outros, será que estamos fazendo nossa parte? Ou seja, estaremos nós atentos ao que se passa com os outros? Estaremos nós dando a devida atenção aos desejos alheios? Ou será que, preocupados com nossos problemas, com o que ocorre conosco, não estaremos fechando os olhos e o coração para os outros.

Se à nossa vida falta poesia, falta amor, falta carinho, é necessário que, antes de começar a criticar o mundo que tudo nos está negando, façamos um exame de consciência para saber qual o nosso grau de culpa nessa atitude hostil para conosco.

É imprescindível perguntarmo-nos se estamos procurando doar algo de nós. Se estamos dando às pessoas de quem reclamamos atenções e carinho, essa mesma atenção, esse mesmo carinho.

A vida é uma longa estrada de mão dupla. Tudo aquilo que passamos por uma das vias da estrada, receberemos de volta. Geralmente (claro que nem sempre ocorre essa troca, pois alguém, muitas vezes deixa de fazer uma entrega adequada), se passarmos amor, compreensão, apoio, carinho, deveremos receber tudo isso de volta.

Porém, se pelo contrário, egoisticamente nos fecharmos em nosso mundo, e só passarmos a cobrar tudo de todos, acabaremos por receber reações hostis. É normal que isso aconteça. Se só passarmos cobranças, receberemos igualmente cobranças.

Então, usando a velha sabedoria popular, "faça aos outros, somente aquilo que queres que os outros te façam", volto a insistir na necessidade que existe de que todos nós sempre procuremos passar amor, carinho, amizade, e certamente receberemos isso de volta.

Não vale a pena também ficar armazenando mágoas. Se acharmos que alguém nos magoou, sempre é necessário verificar se isso foi feito voluntariamente ou não. A única maneira de se dirimir uma dúvida, é uma conversa franca e direta.

Essa conversa deve ser feita na primeira oportunidade, e o mais rapidamente possível, pois se a formos protelando, mais a mágoa crescerá dentro de nós, e mais o causador, voluntário ou não, irá se esquecendo do ato praticado.

Devemos ter presente que, da mesma maneira que alguém nos fere, também podemos ferir alguém sem o perceber. E vai se formando uma bola de neve, que por vezes leva tudo de roldão.

Por vezes, quem nos magoou, não se apercebeu do fato e continua agindo da mesma maneira. Nada falamos. Nossa mágoa aumentando. A raiva crescendo dentro de nós. E o outro sequer nota, o que mais aumenta a mágoa, que com o correr do tempo se transforma em raiva, e acaba virando ódio.

Um dia descarregamos tudo. Todas as frustrações. Todas as raivas. E ficamos estarrecidos ao descobrir que do outro lado também existiam queixas. Também o vínhamos ferindo e, fechados em nossa raiva, não notávamos o movimento na estrada de mão dupla. Até acontecer o acidente fatal. E se não houver uma dose de equilíbrio muito grande, as coisas podem tomar rumos inimagináveis.

Quantas boas amizades terminaram por causa disso. Houvessem dialogado antes, tudo poderia ser esclarecido. Um pedido de desculpas, uma mudança de atitude e quantos aborrecimentos teriam sido evitados.

Mágoas nunca devem ser armazenadas. Dúvidas sempre devem ser dirimidas. Diálogo é a palavra de ordem. É o que gera o entendimento, a compreensão.